Acabo aqui um ano de blogue com aquilo que, musicalmente, de melhor 2010 me trouxe. Apesar de surpresas (e outras não-surpresas) que fui conhecendo e a que aqui voltarei, não tenho dúvidas em apontar o nome que este ano mais espanto e satisfação me proporcionou – Cesare Picco.
Dele, aqui fica uma faixa apropriada à época, pertencente a um CD que em breve terei na prateleira.
Nesta mapa não há fronteiras. E isto não é uma metáfora, é a realidade que esta imagem de sintese nos mostra. Criada por um técnico estagiário de bases de dados no Facebook, foi feita a partir de uma amostra de "apenas" 10.000.000 de ligações de entre os seus mais de 500 milhões de inscritos.
Aquilo que parecem ser contornos geográficos e fronteiras na realidade não o são – tratam-se apenas de linhas que representam conexões a serem realizadas entre utilizadores!
Os leitores da Time tinham escolhido Julian Assange para Pessoa do Ano de 2010. Em vez dele, os editores da revista preferiram eleger Mark Zuckerberg e nomearam Assange para Pessoa (não grata) do Ano. Suspeita-se porquê.
Já depois de conhecidas estas nomeações, o Facebook anunciou que irá passar a permitir fazer o reconhecimento facial a partir das fotografias carregadas pelos utilizadores. Começa assim (ou melhor, continua) a tomar forma uma das maiores – na verdade a maior – base de dados da população mundial. E alimentada por quem? Pelos seus próprios utilizadores.
Não pertenço ao mundo do Facebook e, por várias ordens de razões, pretendo não vir a fazer. Também não me interessa o fenómeno enquanto instrumento de comunicação. Mas, quer queiramos quer não, o nosso mundo – sendo o nosso mundo todos os outros – a maneira como está a ser reorganizado e a percepção que temos dele estão em mudança!
Esta imagem é o mundo segundo o Facebook. Ou será segundo Zuckerberg?
Esta é uma boa ocasião para conhecer mais acerca das músicas tradicionais de Natal. O original desta versão "alternativa" pelos Straight No Chaser terá sido publicado em Inglaterra em 1780 e as explicações acerca da letra original estão no texto que se segue.
Caso não tenham assim muito que fazer num fim-de-semana como este que se aproxima, chuvoso e sombrio, deixo aqui uma sugestão criativa que ajudará também a acabar com aquelas moscas restantes de final de Outono.
Material necessário:
- Mata-moscas (jornal também serve)
- Papel
- Lápis e borracha
Quando, em 1964, Horace Silver - haverá nome mais português do que este? - escreveu o tema "Song for My Father", dedicado ao pai, John Tavares Silva, seria impossível ele supor que viesse a aparecer um arranjo como aquele que Edward Simon, pianista do SFJazz Collective, fez para o tema.
Foi exactamente a obra de Horace Silver que o SFJazz Collective escolheu para tema do disco e da tournée de 2010.
Independentemente do repertório anualmente renovado e dos grandes nomes do jazz sobre os quais a escolha da temática inevitavelmente recai - Ornette Coleman (2004), John Coltrane (2005), Herbie Hancock (2006), Thelonious Monk (2007), Wayne Shorter (2008), McCoy Tyner (2009) - , a simples junção de músicos do calibre de Miguel Zenón (sax alto, e mentor do projecto), Avishai Cohen (trompete), Mark Turner (sax tenor), Robin Eubanks (trombone), Stefon Harris (vibraphone), para além da secção rítmica composta por Edward Simon (piano), Matt Penman (contrabaixo) e Erik Harland (bateria), é em si mesma a garantia de jazz de altíssimo nível.
É exactamente aquilo que se pode testemunhar neste tema, ao longo de mais de 13 minutos (infelizmente truncado nos últimos segundos). Um superior arranjo de metais, na tradição hard-bop de que Horace Silver foi progenitor, com a introdução de harmonias em cânone. A ideia de uma distensão do tempo e a utilização de um padrão rítmico irregular (face ao compasso regular de 4/4 do original).
Existe ao longo do tema um tapete harmónico de fundo, sustentado pelo piano numa espécie de ostinato new-age que define o estado de espírito desta versão. Apesar disso, ouve-se aqui de tudo - hard-bop, calipso, salsa e, claro, as harmonias de Cabo Verde.
O álbum "Live 2010: 7th Annual Concert Tour" é uma bíblia do jazz moderno, composto por 3 CD's, com temas gravados ao vivo desde os EUA, Alemanha, Áustria, França, Espanha, Holanda, Itália, Suécia e Portugal (o concerto da Casa da Música e um ensaio aberto ao público na Universidade Lusíada em Lisboa).
Um comentário no post anterior relembrou-me as primeiras palavras desta música. "Ele é três", dizia Joni Mitchell no início de "God Must Be a Boogie Man".
E qual deles gostaria Mingus de ter sido? Pergunta sem resposta, já que Mingus morreu dias antes deste tema começar a ganhar forma.
Felizes de nós, os mortais, que não temos de ser múltiplos. Já é difícil quanto baste sermos um, quanto mais três.
Mateus Sartori tem uma voz de tenor que fica algures entre Caetano Veloso e Ney Matogrosso. Em "Franciscos", o seu terceiro álbum, ele percorre a música de dez Chicos e Franciscos brasileiros: Chico Buarque, Chico César, Chico Anysio, Chico Pinheiro, Chico Saraiva, Chico Amaral, Chico da Silva, Francisco Itamar Assumpção, Francisco Mattoso e Francisco Bosco.
Para além destes, o disco conta com as participações especiais de Chico César e Chico Pinheiro.
Neste excelente 'making of' (esta é apenas a primeira de quatro partes disponíveis no youtube) é possível conhecer aqueles que são provavelmente os três melhores temas do álbum e ficar com uma ideia dos excelentes arranjos que por lá se ouvem (com destaque para os arranjos dos metais).
Excelente álbum e cantor - para conhecer e seguir.
Na altura em que o Google nos recorda a passagem de 115 anos sobre a descoberta dos Raios-X feita em 1895 por Wilhelm Röntgen (facto que lhe valeu a atribuição do primeiro Prémio Nobel da Física da história, em 1901), vale a pena reparar no trabalho de Nick Veasey, fotógrafo inglês nascido em 1962.
Recorrendo a equipamentos de Raios-X hospitalares, industriais e até militares, Veasey prefere fotografar “através de”, em vez de registar apenas o visível. Mas, para além deste aspecto já de si peculiar, uma boa parte dos objectos que ele escolhe para fotografar são de dimensões que variam desde o apreciável até ao enorme – incluindo um prédio ou mesmo um Boeing 777 (nestes casos ele recorre, obviamente, à montagem digital de centenas de “chapas” individuais).
É um trabalho esteticamente interessante e obviamente apelativo – a publicidade, claro, é um dos seus alvos preferenciais – e que, segundo o próprio Veasey, parece não ter limite. Diz ele: “Please God let me loose in The Museum of Natural History. Or give me Access to All Areas at NASA.”
Que música preferirá ele ouvir enquanto trabalha – "I've Got You Under My Skin"?