Embora nem todos sejamos músicos ou criadores de algum tipo de expressão artística, tenho para mim que parte do que somos – aquilo de que gostamos, o que partilhamos, com quem o partilhamos e, por isso, a quem acabamos por dar um pouco das nossas vidas – assenta sobre muito do génio de gente como esta. Pessoas cuja importância para nós é tão grande – mesmo que disso não tenhamos consciência - que acabam por, de alguma forma, moldar-nos e contribuir para sermos o que somos.
É, para mim, o caso de Michael Brecker. Li sobre ele que em determinada altura chegava a fazer cinco, seis ou mais sessões de estúdio por dia, sem sequer ter a certeza para que disco ou artista estava a gravar. A sua lista de participações é literalmente incontável e o seu número exacto ficará provavelmente por determinar. Significa isto que nenhum de nós conseguirá ter a noção da enorme quantidade de vezes que o escutámos, mesmo sem o saber.
Para além da quantidade, foi a qualidade da sua expressão que fez dele o que é - a maior referência de sempre do saxofone tenor, logo a seguir a John Coltrane. Pude vê-lo uma vez apenas, em Lisboa, por altura do regresso dos Brecker Brothers. Penso que na altura, ao fotografá-lo, não tinha essa consciência de que atrás falava, a de estar ao lado de um gigante.
Mas estava. Passados cerca de 15 anos e agora que ele desapareceu, é fácil perceber – basta olhar para ele – que andamos todos sobre os ombros de gigantes.
(fj) Michael Brecker, Lisboa, 1993
1 comentário:
Amen!
Anonymous Said
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