Era eu miúdo e ouvia falar dele através do meu tio, na altura chegado de Angola e a preparar já o salto para os Estados Unidos (onde veio então a tornar-se no ‘Meu Tio da América’). Deduzo agora que já estava ele bem (in)formado e que aqueles seriam provavelmente sons que já ouviria em Luanda.
O que na altura retive foram apenas nomes – Brasil 66, bossa-nova, Jobim... Não mais do que dois ou três anos depois estava eu a começar a virar os dedos do avesso na viola, ao contrário do que me ensinava o “Método de Aprendizagem Vitória”, à procura dos dissonantes que ouvia e de que já gostava.
Tudo isto faz agora sentido.
Trata-se pois de uma paixão antiga e foi só bem mais tarde, na década de 80 – já eu tinha os dedos virados ao contrário – que comprei um álbum do Sérgio Mendes e pude dissecar a profusão de sons e pormenores que o maestro, arranjador, teclista e produtor colocava em todas as faixas. Ali havia de tudo, desde as baterias das escolas de samba até aos delicados arranjos de teclados e sintetizadores do maior bom-gosto (alguém se lembra do memorável "Never Gonna Let You Go" do álbum “Sérgio Mendes”, de 1983?).
Produções como estas só as do Quincy Jones.
O mesmo músico que gravou com Cannonball Adderley e Herbie Mann na década de 60 chamou em 2006 Will.i.am para colaborar a fundo no álbum Timeless. Na minha opinião em má hora o fez. Deu espaço a mais e o rapper dos Black Eyed Peas tomou-lhe o disco de assalto.
Agora, com um álbum acabadinho de sair (“Encanto”, 2008) retoma o comando e parece querer concordar comigo. Não que deixe de fora as colaborações, bem pelo contrário: Carlinhos Brown, Vanessa da Mata, Will.i.am e Fergie (Black Eyed Peas), Siedah Garret, Ledisi, Natalie Cole, Jovanotti, Lani Hall, Gracinha Leporace (a sua mulher), Herb Alpert, Juanes, Zap Mama.
Mas aqui sim, quem comanda é ele. O bom gosto está por todo o lado, cruza-se o samba, jazz, funk, R&B, hip-hop.
Um 'Encanto'! He’s the man!
Ah, já agora, Natalie Cole a cantar e Till Brönner em flugelhorn.
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