O concerto de domingo de John Abercrombie – com a mesma formação dos anos recentes, mas com Thomas Morgan no lugar de Marc Johnson – tinha tudo para deliciar a pequena horda de fiéis que vieram ver um dos músicos mais emblemáticos da ECM. (fj) John Abercrombie, Marinha Grande, Setembro de 2008 Em vez disso e ao invés de ter proporcionado um concerto que poderia ter sido memorável, a pouca (pouquíssima) gente e a proximidade dos músicos permitiu afinal perceber o mau humor e o enfado que estiveram em palco.
Para além de alguns momentos claros de demonstração da classe e do génio de Abercrombie, sobressaiu a criatividade e o talento de Joey Baron. Este baterista tem recursos e talento em abundância - a atestá-lo está a lista de inúmeros nomes com quem tocou!
(fj) Joey Baron, Marinha Grande, Setembro de 2008
Pelas suas próprias palavras se percebe a diferença de que falo:“he is known for his technique, his humor, and his feel. he once said that context shouldn't matter when hearing music - that the music itself should be enough to move you if you like it.” (fj) Joey Baron, Marinha Grande, Setembro de 2008 Bom, talvez não seja tanto assim mas, seja como for, a ocasião valeu por ele. Ainda assim, um concerto que foi uma sombra do que poderia ter sido.
O último fim-de-semana trouxe concertos de nomes grandes do jazz. No sábado foi Tom Harrell, em quinteto – Tom Harrell (trompete; fliscorne), Wayne Escoffery (saxofone tenor), Danny Grissett (piano; Fender Rhodes), Ugonna Okegwo (contrabaixo) e Jonathan Blake (bateria). (fj) Tom Harrel, Leiria, Setembro de 2008 É impossível ver-se um concerto de Harrell e ignorar a doença que o atormenta. O peso que ele carrega é evidente e parece ser apenas aliviado pela excelência de cada intervenção sua. No entanto, considerando a sua condição, é também impossível não ficar surpreendido – e satisfeito – com o carácter da sua música! De facto, as composições de Tom Harrell possuem uma jovialidade e um vigor notáveis.
Serviu-me este concerto para conhecer Jonathan Blake, baterista brilhante que propulsionou todo o concerto e o decorou com o melhor dos gostos.
(fj) Jonathan Blake / Tom Harrel, Leiria, Setembro de 2008
Ao peso da doença, Tom Harrell verga-se e parece recolher-se após cada intervenção. Mas percebe-se que não está ausente, pelo contrário, está vigilante e consciente do que o rodeia, como quem fica à escuta, na sombra.
Fiquei a conhecer este guitarrista ao mesmo tempo que esta música. O título é bonito. O tema também. E a forma escolhida para o tocar é interessante (refiro-me em particular à junção da viola apenas com a percussão).
Caiu-me muito bem e achei que o conjunto valia a pena.
Mas mais bem disposto fiquei quando li este artigo da 'Guitar Player' acerca do intérprete, Yamandu Costa. Percebi então que os tipos que lá escrevem sabem coisas insuspeitadas sobre gente muito ilustre.
Fiquei assim a saber que o Baden Powell era cubano e António Carlos Jobim argentino!
Ainda bem que eles também são especialistas em música. O que seria se eles fossem apenas craques em geografia!
Aqui está a música a operar um milagre, de cada vez que Tom Harrell leva o trompete à boca. Breve, é certo, mas um milagre. Ao mesmo tempo é belo, perturbador e tocante.
Sem dúvida, outro milagre é poder vê-lo, ao lado de casa, por 10 euros. Tenho de tornar-me mais crente.
Quinteto de Tom Harrell, dia 27 de Setembro, em Leiria. (Tom Harrell, Wayne Escoffery, Danny Grissett, Ugonna Okegwo, Johnathan Blake)
Estava isto p'ra aqui há uma série de tempo, pensado para ser "postado" um dia destes.
A propósito do concerto anunciado de Patricia Barber para Lisboa - fiquei a sabê-lo aqui - não passarei mais tempo sem propor este "Blackbird", de Paul McCartney.
Versão de John McLean, ex-guitarrista de Patricia Barber, com Grazyna Auguscik na voz e Jim Gailloreto em saxofone tenor.
A propósito da entrada em funcionamento do Large Hadron Collider (LHC), uma estagiária do centro europeu de pesquisa nuclear (Kate McAlpine, conhecida como “Alpinekat”) criou, juntamente com outros colegas residentes no CERN, um rap e um vídeo onde explica o que está por detrás das experiências que o LHC permitirá executar.
O LHC tem por fim ajudar a compreender o processo de formação da matéria do universo logo após o "Big Bang" e por que razão os cientistas não conseguem detectar a matéria actualmente “em falta” no universo.
O vídeo (que inclui a imitação da voz sintetizada de Stephen Hawking) tornou-se um êxito na Internet e no YouTube, onde ultrapassou já os 3 milhões de visitas.
Serviço público e divulgação científica, no seu melhor. O que diriam Richard Feynman ou Carl Sagan?
Ya know ’m sayin’?
The Large Hadron Collider Rap
Twenty-seven kilometers of tunnel under ground Designed with mind to send protons around A circle that crosses through Switzerland and France Sixty nations contribute to scientific advance Two beams of protons swing round, through the ring they ride ‘Til in the hearts of the detectors, they’re made to collide And all that energy packed in such a tiny bit of room Becomes mass, particles created from the vacuum And then…
LHCb sees where the antimatter’s gone ALICE looks at collisions of lead ions CMS and ATLAS are two of a kind They’re looking for whatever new particles they can find. The LHC accelerates the protons and the lead And the things that it discovers will rock you in the head.
We see asteroids and planets, stars galore We know a black hole resides at each galaxy’s core But even all that matter cannot explain What holds all these stars together – something else remains This dark matter interacts only through gravity And how do you catch a particle there’s no way to see Take it back to the conservation of energy And the particles appear, clear as can be
You see particles flying, in jets they spray But you notice there ain’t nothin’, goin’ the other way You say, “My law has just been violated – it don’t make sense! There’s gotta be another particle to make this balance.” And it might be dark matter, and for first Time we catch a glimpse of what must fill most of the known ‘Verse. Because…
LHCb sees where the antimatter’s gone ALICE looks at collisions of lead ions CMS and ATLAS are two of a kind They’re looking for whatever new particles they can find.
Antimatter is sort of like matter’s evil twin Because except for charge and handedness of spin They’re the same for a particle and its anti-self But you can’t store an antiparticle on any shelf Cuz when it meets its normal twin, they both annihilate Matter turns to energy and then it dissipates
When matter is created from energy Which is exactly what they’ll do in the LHC You get matter and antimatter in equal parts And they try to take that back to when the universe starts The Big Bang – back when the matter all exploded But the amount of antimatter was somehow eroded Because when we look around we see that matter abounds But antimatter’s nowhere to be found. That’s why…
LHCb sees where the antimatter’s gone ALICE looks at collisions of lead ions CMS and ATLAS are two of a kind They’re looking for whatever new particles they can find. The LHC accelerates the protons and the lead And the things that it discovers will rock you in the head.
The Higgs Boson – that’s the one that everybody talks about. And it’s the one sure thing that this machine will sort out If the Higgs exists, they ought to see it right away And if it doesn’t, then the scientists will finally say “There is no Higgs! We need new physics to account for why Things have mass. Something in our Standard Model went awry.”
But the Higgs – I still haven’t said just what it does They suppose that particles have mass because There is this Higgs field that extends through all space And some particles slow down while other particles race Straight through like the photon – it has no mass But something heavy like the top quark, it’s draggin’ its *** And the Higgs is a boson that carries a force And makes particles take orders from the field that is its source. They’ll detect it….
LHCb sees where the antimatter’s gone ALICE looks at collisions of lead ions CMS and ATLAS are two of a kind They’re looking for whatever new particles they can find.
Now some of you may think that gravity is strong Cuz when you fall off your bicycle it don’t take long Until you hit the earth, and you say, “Dang, that hurt!” But if you think that force is powerful, you’re wrong. You see, gravity – it’s weaker than Weak And the reason why is something many scientists seek They think about dimensions – we just live in three But maybe there are some others that are too small to see It’s into these dimensions that gravity extends Which makes it seem weaker, here on our end. And these dimensions are “rolled up” – curled so tight That they don’t affect you in your day to day life But if you were as tiny as a graviton You could enter these dimensions and go wandering on And they'd find you...
When LHCb sees where the antimatter’s gone ALICE looks at collisions of lead ions CMS and ATLAS are two of a kind They’re looking for whatever new particles they can find. The LHC accelerates the protons and the lead And the things that it discovers will rock you in the head.
Veja-se este vídeo. Todo, a sério! É caseirinho, gravado na simplicidade de um encontro de amigos. Depois vejam-se todos os outros relacionados no YouTube.
Tive de ver tudo, ou quase. Depois fui saber quem era (foi) Raphael Rabello e deparei-me com isto:
“The best guitarist I’ve heard in years. He has overcome the technical limitations of the instrument, and his music comes unhindered from his soul, straight to the hearts of we who admire him.” — Paco de Lucia
“Raphael Rabello was simply one of the greatest guitarists who has ever lived. His level of insight into the potential of the instrument was matched only by the great Paco de Lucia. He was ‘the’ Brazilian guitarist of our time, in my opinion. His loss at such a young age is an incredible loss, not only for what he already did, but for what he could have done.” — Pat Metheny
E li outras opiniões, de maior ou de menor peso, mas todas a indicar mais ou menos o mesmo. Depois vi as versões de "Luíza" e de "Sampa", ambas interpretadas (e recriadas) de forma inusitadamente bela. E gostei, como nunca tinha gostado, desse choro exemplar que é o "Meu Caro Amigo" (aqui com Francis Hime ao piano, seu co-autor com Chico Buarque).
E, depois, estou a ver e a ouvir tudo aquilo, e percebo que este homem morreu em Abril de 1995, com 32 anos. E ao ver este vídeo tive que me rir, penso que por duas razões. A primeira foi, obviamente, por assistir ao imenso banho de música que o amigo de Raphael Rabello ali apanha.
A segunda, terá sido ao escutar aquela torrente imparável de notas e o domínio absoluto da linguagem maravilhosa do choro!
Mas confesso que foi também para espantar o desconforto e a tristeza de ter conhecido um músico assim, para logo em seguida vir a saber que morreu, cedo de mais, pelas mais infames das razões.
"In 1989 Raphael had a car accident and suffered multiple fractures in his right arm. Surprisingly enough, he bravely recovered and continued to play masterfully. However, due to these injuries, he had to go through many surgery procedures and was tragically contaminated by HIV in a blood transfusion. Hopeless, he became cocaine addicted and died of generalized infection on April 27, 1995." — Wikipedia
E depois há tipos como este, que vêm lá de Topeka, no Kansas, só p'ra se armarem!
Ou, dito de outra maneira, parece a América interior a querer encontrar-se com o Portugal profundo! ---------------------------------------------------------------------- Sep 19, 9:30 PM (w/ Dan LaVoie) Braganca, PT Auditorio do Teatro Municipal de Braganca
Sep 20, 10:00 PM (w/ Dan LaVoie) Vila Real, PT Grande Auditório do Teatro de Vila Real
Sep 24, 9:30 PM (w/ Dan LaVoie) São João da Pesqueira, PT Cine Teatro de São João da Pesqueira
Sep 25, 9:30 PM (w/ Dan LaVoie) Chaves, PT Cultural Center of Chaves ---------------------------------------------------------------------- Andy McKee / Don Ross - Spirit of the West (original de Russel Ferrante, dos meus mui preciosos Yellowjackets)
Não sou eu que o digo, é o veterano Med Flory, acerca desta "not so big band". Na verdade, um decateto. Coesão, criatividade, bom gosto, é o que tem o Phil Norman Tentet.
Ah, pois, e também alguns dos melhores músicos de Los Angeles.
Enquanto não se encontra por aí, fiquemos com este Autumn Leaves.
Do premiadíssimo CD "Concert in the Garden", a faixa "Choro Dançado", uma interessante revisão do tradicional choro brasileiro, refinado com o bom gosto dos arranjos de Maria Schneider para a sua big band.
Apesar de não ser uma performance isenta de algumas falhas menores, vale a pena ver como Maria Schneider e a orquestra a interpretam ao vivo, bem como a forma lenta e segura como Rich Perry (sax tenor) agarra a sua deixa e progressivamente constrói o seu solo. Destaques ainda para Gary Versace (acordeão), Jeff Ballard (cajón) e, claro, para a minha sempre eleita Luciana Souza (voz e pandeiro).
E que alegria, a de Maria, enquanto dirige. Concentradíssima, até ao staccato dos últimos momentos.
Maria Schneider Orchestra - Choro dançado
Depois do original de Maria Schneider, uma versão perfeita, refinada no estilo e na execução.
Achei excelentes o jogo harmónico e a interacção dos timbres entre a guitarra do dinamarquês Torben Waldorffe o saxofone de Donny McCaslin. Não será por acaso: McCaslin é um dos saxofonistas da Maria Schneider Orchestra e foi eleito "2008 Rising Star" pela downbeat.
Sempre gostei muito, muito mesmo, desta música, mas ao ouvir esta versão fiquei siderado!
Sylvain Luc, os discos deste cigano-basco-francês raramente me desiludem (sim, houve um, até agora). Neste CD - Joko - ele vem provar que devemos estar sempre atentos à sua criatividade e técnica assombrosas.
Nesta faixa, apenas ele (guitarras e baixo) e Pascal Rey (bateria, percussão).
(Para quem não se lembre (conheça) do (o) original, aqui fica)
O clássico “Sweet Georgia Brown”, abordado por uma “not so big band” liderada pelo jamaicano Monty Alexander.
Participações especiais de Anthony Jackson no baixo eléctrico (logo ao início do tema, em duelos fulminantes com o contrabaixo de Ira Coleman) e Steve Ferrone na bateria.
Uma vez por ano volta o jazz a Leiria com o Festival de Jazz da Alta Estremadura. Desta vez com mais diversidade e, espera-se, qualidade. Entre os portugueses, a novidade é este ano Marta Hugon, cujo primeiro disco me convenceu.
Dos estrangeiros não vale a pena destacar nenhum. Antes, será de referi-los a todos:
20 de Setembro / 22.00h "FLY" - Mark Turner, Larry Grenadier, Jeff Ballard
27 de Setembro / 22.00h Tom Harrell Quintet - Tom Harrell, Wayne Escoffery, Danny Grissett, Ugonna Okegwo, Johnathan Blake (músico e personalidade incríveis, o 'CBS 60 Minutes' dedicou-lhe um interessantíssimo documentário que é difícil esquecer; com uma fantástica secção rítmica, este é um concerto do qual espero o melhor!)
28 de Setembro / 22.00h John Abercrombie "The Third Quartet", c/ Mark Feldman, Thomas Morgan, Joey Baron
Nils Landgren, trombonista, sueco, terá tocado em mais de 500 álbuns de diferentes artistas, desde os ABBA e The Crusaders até Bernard "Pretty" Purdie e Herbie Hancock.
Teve formação clássica antes de passar para o jazz e especializar-se em funk, criando o seu próprio grupo, a "Nils Landgren Funk Unit".
Videos absolutamente obrigatórios são estes!
"This Masquerade" (parte 1)
"This Masquerade" (parte 2)
"Don't Let Me Be Lonely Tonight"
(a progressão harmónica aos 2'58'', como corolário do solo, é absolutamente superior!)
Robin McKelle tem uma voz espantosa. Daquilo que lhe conheço digo, sem entrar em euforias, que ela tem uma voz próxima da de Ella. Que o seu scat é belíssimo. Que sabe bem misturar pequenos falsetes com a sua voz natural. E que a sabe levar até à rouquidão, ao limite do esforço, sem a esforçar.
Já aqui o disse, gostaria que Robin McKelle não passasse ao lado de uma carreira como deve ser. Assim sendo, a primeira boa notícia é que ela tem um novo disco. A segunda é que o disco é editado pela Blue Note Europe.
Quer a voz quer os arranjos são da mesma qualidade do álbum anterior. Não nos traz novidades, tal como eu gostaria, nem em termos de estilo nem de repertório, mas traz-nos uma surpresa logo na primeira faixa! Esta, que aqui podemos ver e ouvir, e onde se recorda - quem diria! - a Steve Miller Band.
Diferente, sem dúvida, mas lá que sabe bem, isso sabe.