segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Mercado





O Mercado Engenheiro Silva era onde quase sempre íamos aos sábados de manhã. Três ou quatro cestos de compras repartidos pelos Pais e por mim, saímos a pé, pisávamos o alcatrão torto das raízes que as árvores sempre teimam em deitar e, pela Rua Fresca, descíamos até ao Jardim.

Nas manhãs de Verão era aí que gansos e crianças disputavam o silêncio e onde, àquela hora, as folhagens já não disfarçavam o primeiro calor do dia.

Havia uma pedra saliente, cravada no chão, que eu nunca deixava de pisar. Luzidia, guardava uma reentrância escavada para receber a enorme tranca de ferro do portão do Mercado.

(fj) Figueira da Foz, Dezembro de 2009

Uma vez transposta, dava-se início a um circuito já mais ou menos traçado. Frutas, peixe, legumes e carne, as bancas do costume e as conversas de sempre. Olhe este peixe que eu já tinha guardado para si, faço-lhe tudo a 2$50, leve estas que não se arrepende, olhe q’isto é só mel.

Carregados os cestos, o regresso. O Jardim novamente - agora mais quente - depois pela Rua Fresca acima, devagar, até à Igreja e depois a casa.

O Mercado ficou-me gravado como rotina matinal dos sábados. Não me lembro das caras, mas recordo-me do resto que está impresso nos sentidos - a algazarra de sons, o cheiro do peixe, o da carne cortada e o da criação que em pequenas capoeiras ali terminava a vida.

Em minha casa nunca se ia à praça, dizia-se ir ao Mercado. Hoje é um sítio arrumado, certificado, mas eu ainda gosto de por lá passar.

Ali nada é meu, mas quase podia ser.

4 comentários:

sem-se-ver disse...

porra, pá, assustaste-me com a tua penultima frase!!! chiça!!!




ok, agora deixa ver.

sem-se-ver disse...

ah ok, já percebi, foi só mudança de template. está muito bonito!

:))

fj disse...

ssv,
no worries, pelo menos por enquanto!
mudei o template e queria mudar o nome também.
vá lá saber-se porquê... :)

sem-se-ver disse...

vá-se lá saber porquê!