Sebastien Feval/AFP/Getty Images
Claude Nobs morreu ontem, na sequência de uma queda sofrida na véspera de Natal, enquanto fazia uma das coisas de que mais gostava, o esqui nórdico. Gostava também de outras coisas - cozinhar, viajar, conhecer pessoas, receber amigos no chalet de Caux, nas colinas sobre o lago Genebra - e de música. Claude gostava muito de música!
Quando em 1967 organizou a primeira edição do Festival de Jazz de Montreaux, não imaginaria decerto a dimensão da obra e do legado que viria a deixar aos músicos e à gente que, como eu, ama a música.
No chalet de Claude existe hoje um bunker onde está guardado um imenso espólio que inclui 5.000 horas de gravações áudio e vídeo, de mais de 4.000 concertos realizados ao longo de 45 anos do festival. São cerca de 10.000 gravações em fitas, bobinas, CDs, DVDs, etc., registadas numa dúzia de formatos diferentes. Parte desses registos foram salvos pelo próprio Claude Nobs, comprando-os de volta antes de serem destruídos pelas entidades que ainda os tinham à sua guarda (foi esse o caso das gravações feitas pela televisão suíça e, mais tarde, das gravações em HD feitas pela Sony).
Claude reuniu todos esses registos e criou uma entidade - “Montreux Sounds Digital Project” - para fazer a sua gestão e transposição para suportes de áudio e vídeo actuais.
Ter amor à camisola e ser generoso também é isto – utilizar em vida o dinheiro que se tem, em benefício dos que ficam.
Quando os Deep Purple escreveram a letra de “Smoke On The Water” referiram-se a Claude Nobs como “Funky Claude”, o director do Festival que andava ele mesmo a retirar jovens do interior em chamas do Casino Montreaux, onde antes o fogo deflagrara durante o concerto de Frank Zappa (“Funky Claude was running in and out, / Pulling kids out the ground.”).
Para muitos restará de Claude Nobs uma referência obscura num verso da letra de “Smoke On The Water”.
Para mim ficará a simpatia e enorme admiração por um homem generoso, amante não só do jazz mas de toda a música, e cuja pronúncia carregada de sotaque francês, que era característica sua durante as apresentações dos músicos, guardarei para sempre no ouvido.
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