domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal

Volto a Lisboa, sem companhia mas com tempo para rever lugares onde vivi. A invernia do início de Dezembro apressa o passo a alguns. Os outros, muitos, cada vez mais, continuam a percorrer as avenidas em passos lentos, sem a pressa de quem tem um lugar para onde ir.

Andar agora pelas ruas de Lisboa é-me quase penoso, mas quero fazê-lo. Foi tudo há já bastante tempo mas quero relembrar-me de como era percorrer, dia após dia, noite após noite, avenidas e praças, e vaguear por centros comerciais em busca de pequenos nadas.

Tudo agora está mais vazio ou então fechado - ruas, lojas, as pequenas mercearias agora obstinadas em sobreviver, os centros comerciais que ainda resistem. Entro e desço ao fundo de mais um. Busco as lojas que conheci mas elas já lá não estão. No seu lugar há agora outros nomes, outras montras e pessoas que naquele tempo tinham acabado de nascer.

Desço mais, até ao fundo, e na pequena praça central dou com um piano que subitamente toca sozinho. Tem um som excelente, e quem o ensinou a tocar fê-lo bem, muito bem.

Para além de mim, está ali apenas um homem de idade, sentado nos sofás junto do piano que, também sozinho, vai tocando músicas antigas, algumas de Natal. A postura e o olhar são fixos e não deixam perceber se a imobilidade é apatia ou desvelo pela música.

Percorro os corredores em volta, uma vez, depois outra, e vejo que não há mais ninguém. Estamos três sozinhos.



                              (fj) Lisboa, Dezembro de 2011

Decido subir, já vi tudo.

Quero voltar para casa, para a cidade onde ficou decidido que eu vivesse. Cá fora os táxis continuam à espera, os poucos carros que passam voam para os subúrbios e eu vou a pensar para que casa aquele homem irá voltar. Ou se alguém o irá buscar.

É assim o Natal.

4 comentários:

cs disse...

Gostei.

Abraço
cs

Di disse...

Melancólico, hem?!
Pois... é Natal e há muita coisa que (já) não faz sentido!

Bjs

fj disse...

abraço cs!

fj disse...

di, melancolia talvez. não nostalgia.
são coisas daquelas, antigas...

bjs