Andar agora pelas ruas de Lisboa é-me quase penoso, mas quero fazê-lo. Foi tudo há já bastante tempo mas quero relembrar-me de como era percorrer, dia após dia, noite após noite, avenidas e praças, e vaguear por centros comerciais em busca de pequenos nadas.
Tudo agora está mais vazio ou então fechado - ruas, lojas, as pequenas mercearias agora obstinadas em sobreviver, os centros comerciais que ainda resistem. Entro e desço ao fundo de mais um. Busco as lojas que conheci mas elas já lá não estão. No seu lugar há agora outros nomes, outras montras e pessoas que naquele tempo tinham acabado de nascer.
Desço mais, até ao fundo, e na pequena praça central dou com um piano que subitamente toca sozinho. Tem um som excelente, e quem o ensinou a tocar fê-lo bem, muito bem.
Para além de mim, está ali apenas um homem de idade, sentado nos sofás junto do piano que, também sozinho, vai tocando músicas antigas, algumas de Natal. A postura e o olhar são fixos e não deixam perceber se a imobilidade é apatia ou desvelo pela música.
Percorro os corredores em volta, uma vez, depois outra, e vejo que não há mais ninguém. Estamos três sozinhos.
(fj) Lisboa, Dezembro de 2011
Decido subir, já vi tudo.
Quero voltar para casa, para a cidade onde ficou decidido que eu vivesse. Cá fora os táxis continuam à espera, os poucos carros que passam voam para os subúrbios e eu vou a pensar para que casa aquele homem irá voltar. Ou se alguém o irá buscar.
É assim o Natal.