quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bi-coastal

Como de costume, em mais um encontro de amigos, a conversa foi parar a álbuns, autores e músicas que nos marcaram. Desta vez acabámos a falar de Peter Allen, cantor, pianista, compositor e crooner / entertainer.

E, claro, a conversa terminou a perguntarmo-nos o que será feito dele... ainda canta, será que morreu, estará reformado a viver na Florida...?

Bom, rapidamente para o final, sim, ele morreu em 1992, de complicações causadas pela SIDA.

Peter Allen nasceu na Austrália em 1944 e foi descoberto por Judy Garland em 1964, no bar de um hotel em Hong Kong. Convidado a ir para os Estados Unidos, aí passou a viver como protégé de Judy Garland e íntimo da sua família, tendo vindo a casar-se com a sua filha, Liza Minnelli, em 1967.

A seguir ao divórcio em 1974, Peter Allen alargou a sua faceta de criador de espectáculos de cabaret e Broadway, criando álbuns e temas absolutamente soberbos como "Don't Cry Out Loud" (gravada por Melissa Manchester), “I Honestly Love You” (gravada por Olivia Newton-John e que atingiu o primeiro lugar de vendas nos Estados Unidos) ou participando com Burt Bacharach na autoria de "Arthur's Theme (The Best That You Can Do)", cantado por Christopher Cross.

Mas o tema de Peter Allen que aqui proponho é “Bi-coastal”, do super-álbum de 1980 com o mesmo nome, produzido por David Foster e gravado com uma verdadeira constelação dos melhores músicos de estúdio: David Foster, Steve Lukather, Jeff Porcaro e Mike Porcaro (3 membros chave dos 'Toto'), Gary Grant, Jay Graydon, Jerry Hey, Bill Reichenbach, Carlos Vega, Larry Williams, entre vários outros.



Bi-coastal” trata do dilema de viver dividido entre duas costas e duas cidade (N.Y.C. e L.A.), mas é sem dúvida também uma alusão de Allen à sua própria bissexualidade.

All those girls in TV movies,
All those boys on Broadway,
When you can't make up your mind,
You know you'd go either way


Na verdade, Peter Allen era exuberante em palco mas reservado quanto à sua vida privada. A seguir ao divórcio de Liza Minnelli, Allen passou a viver com aquele que foi o seu companheiro até à morte em 1984, Gregory Connell, um modelo do Texas que tinha ido viver para Nova Iorque e que acabou por se tornar o responsável pelas luzes nos espectáculos de Allen.

Bi-coastal, when both are so much fun,
Why do you have to pick one

Pela sua qualidade, “Bi-coastal” é um tema que desafia a hegemonia das produções de Quincy Jones da altura, para os temas de Rod Temperton, Michael Jackson ou George Benson.

Este foi um tema meu favorito ao longo de vários anos e que quase ficara esquecido até hoje. Da recordação de Peter Allen ficam-nos, para além de um musical sobre a sua vida, “The Boy from Oz” várias excelentes músicas como esta.


Nota: Não fiz aqui referência a outros dois temas que vale também a pena mencionar. Para além do óbvio "I Go To Rio", Peter Allen deixa ainda outra música que ficará célebre – "I Still Call Australia Home" – por ser usada em anúncios da Qantas Airlines e por se ter convertido numa espécie de hino dos Australianos a viver pelo Mundo. Continua a defender-se na Austrália que o actual hino nacional deveria ser substituído por este tema.

9 comentários:

Rui disse...

A alegria que me deste ao colocar esta música aqui. Vivi este álbum com uma intensidade enorme e este post tem a vantagem de me dar a escutar um tema que não ouvia há vinte, vinte e tal anos. Bi-coastal. Vou a correr ver se o consigo comprar. Obrigado. Conheço tudo - mas rigorosamente tudo - deste tema. Fico sempre parvo com a persistência da memória a la Dali.

Rui disse...

.. e o fly away?... lindo

Rui disse...

O I honesttly love you é um dos meus "guilty pleasures". Um hino também a uma certa Figueira da Foz. Não o ouço sem me emocionar.

fj disse...

essa persistência da memória (musical) é um assunto maravilhoso que nos leva longe, sem hipótese de retorno. fala-se muito disso num livro interessantíssimo que ando a ler - 'musicofilia' de oliver sacks.

é ela que frequentemente me dá enormes alegrias, como foi no caso do bi-coastal. como no caso do fly away. como no caso do i honestly love you.

fj disse...

e a entrada em contratempo aos 3'03''? maravilhosa! não tarda nada os putos já a sabem de cor.

Rui disse...

Esse contratempo associado ao slide do baixo foi sempre um dos mais espantosos momentos do album. Se soubesses como me recordei de tantos pormenores. À primeira. É incrível como estas coisas ficam vivas.

Elisabete disse...

ui! ui! o que tu vieste lembrar?....Figueira, Mandarim, Beach Club e as nossas maravilhosas sessões músicais. Não faziamos nada sem música...e I honestlY love you lembra-me como se conseguia cantar nessa altura....lembram-se??? Cantava de alma e coração. Os contratempos e os tempos eram inatos. Simplesmente amava-se aquilo que se tocava e cantava!

fj disse...

elisabete, ainda bem que aqui vieste. este post não foi para ti, mas muito em ti pensei ao escrevê-lo e ao tornar a ouvir coisas do peter allen.

tal como disse o rui, não as ouço sem me emocionar. grande beijo de saudades!

Rui disse...

Impossível não pensar na Elisabete, evidentemente.