quinta-feira, 10 de abril de 2008

saravá

Já lá vão quase duas semanas sem que tenha aqui dado conta do concerto que vi do Joel Xavier.

O Joel tem novo disco – “saravá”! Embora a apresentação esteja marcada só para Maio, no Teatro da Trindade em Lisboa, ele já
anda por aí, país afora, espalhando proactivamente a boa nova (ahh,... como eu gosto do jargão tecnocrático, dá-nos um ar sempre tão credível!).

Ao que interessa: o novo álbum e concerto assentam num trio: ele, armado de Gibson ES175, + um baixo 5 string fretless + uma bateria minimalista (ver comentários mais à frente). Como sugerido pelo título, todo o álbum é inspirado na música e ritmos brasileiros/africanos.

O Joel é simpático, toca bem, e sobre isso estamos esclarecidos. Já lhe comprei dois discos (destaque para Lusitano, com Richard Galliano) e para além das qualidades evidentes atestam a seu favor as colaborações abundantes com “pesos pesados” do jazz do mundo.

Através dos previews que tinha procurado antes do concerto tinha ficado já com uma ou duas impressões:

Impressão primeira: o Joel é rápido mas não deve (não precisa de) continuar a querer demonstrá-lo e a fazer disso cavalo de batalha. Até porque a rapidez dele é frequentemente trapalhona. Em tempos menos rápidos ou em notas que vão até às 1/16ths, tudo vai bem. A partir daí perde-se ele e, por arrasto, a definição das notas e o tino do discurso.

Impressão segunda: o Joel é rápido e tem um scat excelente. Mas é de notar como a beleza e a consistência do fraseado só se sentem verdadeiramente quando passa do solo simples para o solo+scat. Que diferença! Ao “cantar”, o discurso passa a ser bonito e consistente. Inesperado, mas com uma lógica construtiva.

Impressão extra: o Joel faz-se acompanhar por uma secção rítmica de brasileiros residentes em Portugal (mais uma). Se por um lado o baixista (Gustavo Roriz) me deixou indiferente, por outro é necessário lançar aqui um alerta acerca do baterista!

Este indivíduo – Milton Batera – requer toda a atenção e deve passar a ser vigiado de perto. Em primeiro lugar ele aparenta modéstia, recorrendo a um set de bateria minimalista: além do bombo, da tarola e dos pratos de choque, utiliza 1 tambor (um). De resto tem 2 pratos - 1 ride e 1 crash - mais um ou outro artefacto de percussão.

Mas não vos deixais iludir! Este homem sabe preencher a música com uma subtileza notável, ao mesmo tempo que, se necessário, se torna numa locomotiva, numa quase completa “bateria” de percussões de escola de samba.

Em resumo, concerto é sempre concerto, mas continuo a preferir o álbum Lusitano, agora enriquecido pela dedicatória do próprio Joel, aposta precisamente sobre a cara do pobre Galliano...

Continuo a lamentar não o ter visto no ano passado na Figueira, com o Ron Carter. Shame on me...

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